EM CONCLUSÃO, SE O ÁRDUO EMPENHO EM PROL DA FÉ, DA ESPERANÇA E DO AMOR NO MUNDO CONSTITUI NESTE MOMENTO (E, DE FORMAS DIVERSAS, SEMPRE) A VERDADEIRA PRIORIDADE PARA A IGREJA, ENTÃO FAZEM PARTE DELE TAMBÉM AS PEQUENAS E MÉDIAS RECONCILIAÇÕES. O FACTO QUE O GESTO SUBMISSO DUMA MÃO ESTENDIDA TENHA DADO ORIGEM A UM GRANDE RUMOR, TRANSFORMANDO-SE PRECISAMENTE ASSIM NO CONTRÁRIO DUMA RECONCILIAÇÃO É UM DADO QUE DEVEMOS REGISTAR. MAS EU PERGUNTO AGORA: VERDADEIRAMENTE ERA E É ERRADO IR, MESMO NESTE CASO, AO ENCONTRO DO IRMÃO QUE «TEM ALGUMA COISA CONTRA TI» (CF. MT 5, 23S) E PROCURAR A RECONCILIAÇÃO? NÃO DEVE PORVENTURA A PRÓPRIA SOCIEDADE CIVIL TENTAR PREVENIR AS RADICALIZAÇÕES E REINTEGRAR OS SEUS EVENTUAIS ADERENTES – NA MEDIDA DO POSSÍVEL – NAS GRANDES FORÇAS QUE PLASMAM A VIDA SOCIAL, PARA EVITAR A SEGREGAÇÃO DELES COM TODAS AS SUAS CONSEQUÊNCIAS? PODERÁ SER TOTALMENTE ERRADO O FACTO DE SE EMPENHAR NA DISSOLUÇÃO DE ENDURECIMENTOS E DE RESTRIÇÕES, DE MODO A DAR ESPAÇO A QUANTO NISSO HAJA DE POSITIVO E DE RECUPERÁVEL PARA O CONJUNTO? EU MESMO CONSTATEI, NOS ANOS POSTERIORES A 1988, COMO, GRAÇAS AO SEU REGRESSO, SE MODIFICARA O CLIMA INTERNO DE COMUNIDADES ANTES SEPARADAS DE ROMA; COMO O REGRESSO NA GRANDE E AMPLA IGREJA COMUM FIZERA DE TAL MODO SUPERAR POSIÇÕES UNILATERAIS E ABRANDAR INFLEXIBILIDADES QUE DEPOIS RESULTARAM FORÇAS POSITIVAS PARA O CONJUNTO. PODERÁ DEIXAR-NOS TOTALMENTE INDIFERENTES UMA COMUNIDADE ONDE SE ENCONTRAM 491 SACERDOTES, 215 SEMINARISTAS, 6 SEMINÁRIOS, 88 ESCOLAS, 2 INSTITUTOS UNIVERSITÁRIOS, 117 IRMÃOS, 164 IRMÃS E MILHARES DE FIÉIS? VERDADEIRAMENTE DEVEMOS COM TODA A TRANQUILIDADE DEIXÁ-LOS ANDAR À DERIVA LONGE DA IGREJA? PENSO, POR EXEMPLO, NOS 491 SACERDOTES: NÃO PODEMOS CONHECER TODA A TRAMA DAS SUAS MOTIVAÇÕES; MAS PENSO QUE NÃO SE TERIAM DECIDIDO PELO SACERDÓCIO, SE, A PAR DE DIVERSOS ELEMENTOS VESGOS E COMBALIDOS, NÃO TIVESSE HAVIDO O AMOR POR CRISTO E A VONTADE DE ANUNCIÁ-LO E, COM ELE, O DEUS VIVO. PODEREMOS NÓS SIMPLESMENTE EXCLUÍ-LOS, ENQUANTO REPRESENTANTES DE UM GRUPO MARGINAL RADICAL, DA BUSCA DA RECONCILIAÇÃO E DA UNIDADE? E DEPOIS QUE SERÁ DELES?
É CERTO QUE, DESDE HÁ MUITO TEMPO E NOVAMENTE NESTA OCASIÃO CONCRETA, OUVIMOS DA BOCA DE REPRESENTANTES DAQUELA COMUNIDADE MUITAS COISAS DISSONANTES: SOBRANCERIA E PRESUNÇÃO, FIXAÇÃO EM PONTOS UNILATERAIS, ETC. EM ABONO DA VERDADE, DEVO ACRESCENTAR QUE TAMBÉM RECEBI UMA SÉRIE DE COMOVENTES TESTEMUNHOS DE GRATIDÃO, NOS QUAIS SE VISLUMBRAVA UMA ABERTURA DOS CORAÇÕES. MAS NÃO DEVERIA A GRANDE IGREJA PERMITIR-SE TAMBÉM DE SER GENEROSA, CIENTE DA CONCEPÇÃO AMPLA E FECUNDA QUE POSSUI, CIENTE DA PROMESSA QUE LHE FOI FEITA? NÃO DEVEREMOS NÓS, COMO BONS EDUCADORES, SER CAPAZES TAMBÉM DE NÃO REPARAR EM DIVERSAS COISAS NÃO BOAS E DILIGENCIAR POR ARRASTAR PARA FORA DE MESQUINHICES? E NÃO DEVEREMOS PORVENTURA ADMITIR QUE, EM AMBIENTES DA IGREJA, TAMBÉM SURGIU QUALQUER DISSONÂNCIA? ÀS VEZES FICA-SE COM A IMPRESSÃO DE QUE A NOSSA SOCIEDADE TENHA NECESSIDADE PELO MENOS DE UM GRUPO AO QUAL NÃO CONCEDA QUALQUER TOLERÂNCIA, CONTRA O QUAL SEJA POSSÍVEL TRANQUILAMENTE ARREMETER-SE COM AVERSÃO. E SE ALGUÉM OUSA APROXIMAR-SE DO MESMO – DO PAPA, NESTE CASO – PERDE TAMBÉM O DIREITO À TOLERÂNCIA E PODE DE IGUAL MODO SER TRATADO COM AVERSÃO SEM TEMOR NEM DECÊNCIA.
AMADOS IRMÃOS, NOS DIAS EM QUE ME VEIO À MENTE ESCREVER-VOS ESTA CARTA, DEU-SE O CASO DE, NO SEMINÁRIO ROMANO, TER DE INTERPRETAR E COMENTAR O TEXTO DE GAL 5, 13-15. NOTEI COM SURPRESA O CARÁCTER IMEDIATO COM QUE ESTAS FRASES NOS FALAM DO MOMENTO ACTUAL: «NÃO ABUSEIS DA LIBERDADE COMO PRETEXTO PARA VIVERDES SEGUNDO A CARNE; MAS, PELA CARIDADE, COLOCAI-VOS AO SERVIÇO UNS DOS OUTROS, PORQUE TODA A LEI SE RESUME NESTA PALAVRA: AMARÁS O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO. SE VÓS, PORÉM, VOS MORDEIS E DEVORAIS MUTUAMENTE, TOMAI CUIDADO EM NÃO VOS DESTRUIRDES UNS AOS OUTROS». SEMPRE TIVE A PROPENSÃO DE CONSIDERAR ESTA FRASE COMO UM DAQUELES EXAGEROS RETÓRICOS QUE ÀS VEZES SE ENCONTRAM EM SÃO PAULO. E, SOB CERTOS ASPECTOS, PODE SER ASSIM. MAS, INFELIZMENTE, ESTE «MORDER E DEVORAR» EXISTE TAMBÉM HOJE NA IGREJA COMO EXPRESSÃO DUMA LIBERDADE MAL INTERPRETADA. PORVENTURA SERÁ MOTIVO DE SURPRESA SABER QUE NÓS TAMBÉM NÃO SOMOS MELHORES DO QUE OS GÁLATAS? QUE PELO MENOS ESTAMOS AMEAÇADOS PELAS MESMAS TENTAÇÕES? QUE TEMOS DE APRENDER SEMPRE DE NOVO O RECTO USO DA LIBERDADE? E QUE DEVEMOS APRENDER SEM CESSAR A PRIORIDADE SUPREMA: O AMOR? NO DIA EM QUE FALEI DISTO NO SEMINÁRIO MAIOR, CELEBRAVA-SE EM ROMA A FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA. DE FACTO, MARIA ENSINA-NOS A CONFIANÇA. CONDUZ-NOS AO FILHO, DE QUEM TODOS NÓS PODEMOS FIAR-NOS. ELE GUIAR-NOS-Á, MESMO EM TEMPOS TURBULENTOS. DESTE MODO QUERO AGRADECER DE CORAÇÃO AOS NUMEROSOS BISPOS QUE, NESTE PERÍODO, ME DERAM COMOVENTES PROVAS DE CONFIANÇA E AFECTO, E SOBRETUDO ME ASSEGURARAM A SUA ORAÇÃO. ESTE AGRADECIMENTO VALE TAMBÉM PARA TODOS OS FIÉIS QUE, NESTE TEMPO, TESTEMUNHARAM A SUA INALTERÁVEL FIDELIDADE PARA COM O SUCESSOR DE SÃO PEDRO. O SENHOR NOS PROTEJA A TODOS NÓS E NOS CONDUZA PELO CAMINHO DA PAZ. TAIS SÃO OS VOTOS QUE ESPONTANEAMENTE ME BROTAM DO CORAÇÃO NESTE INÍCIO DA QUARESMA, TEMPO LITÚRGICO PARTICULARMENTE FAVORÁVEL À PURIFICAÇÃO INTERIOR, QUE NOS CONVIDA A TODOS A OLHAR COM RENOVADA ESPERANÇA PARA A META LUMINOSA DA PÁSCOA.
COM UMA ESPECIAL BÊNÇÃO APOSTÓLICA, ME CONFIRMO
VOSSO NO SENHOR
BENEDICTUS PP. XVI
VATICANO, 10 DE MARÇO DE 2009.
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